Com com aparelhos de até 6 polegadas, fabricantes atendem demanda por telas maiores e desenvolvem novas tecnologias
RIO — Para Luciana Solanés, em se tratando de smartphones, quanto maior a tela, melhor. A administradora de imóveis sempre leva na bolsa dois modelos: um de 4,7 polegadas, e outro de 5,7 — ambos usados para lazer e trabalho. Ela não está sozinha, Atendendo à demanda crescente por telas maiores, os fabricantes vêm apostando no lançamento de aparelhos avantajados, num movimento contrário à miniaturização dos celulares observado na década de 1990. Dois dos três novos smartphones anunciados pela Samsung este mês têm telas a partir de 5 polegadas. A primeira versão do iPhone, lançado pela Apple em 2007, tinha 3,5 polegadas. O 6 Plus, divulgado com alarde no ano passado, alcançou 5,5.
Especialistas afirmam que os phablets (termo derivado da junção entre smartphones e tablets) vieram para ficar, mas nem sempre são bem-vistos. Homens não costumam usar bolsas para ir a qualquer lugar, e carregar esses "vitaminados" aparelhos no bolso da calça tem inconvenientes. Provavelmente por conta disso, os fabricantes vêm registrando patentes de componentes flexíveis, dando a entender que o futuro será de equipamentos dobráveis. Mês passado foi concedida à Apple uma patente de dispositivo portátil feito quase totalmente de peças flexíveis, permitindo a criação, por exemplo, de uma tela que se dobra como uma carteira de três partes. A Samsung também tem patente de equipamentos flexíveis, e consultores dizem que a empresa pretende lançar celulares dobráveis ano que vem.
— Tenho predileção pelas telas grandes. A primeira vez em que peguei em um aparelho maior, me adaptei logo. Como o smartphone hoje em dia já é praticamente um computador pessoal, a tela menor já não atende mais às minhas necessidades — afirma Luciana, dona de um iPhone 6, da Apple, e um Galaxy Note 3, da Samsung. — Teria dificuldade para me acostumar com um aparelho menor.
O fenômeno não é exatamente novo, mas o ano de 2014 pode ser considerado o da consolidação. Os novos iPhones 6 Plus, de 5,5 polegadas, e Nexus 6, com tela de 6 polegadas, precederam lançamentos da Sony e da Samsung previstos para este ano. Gerente de produtos mobile da coreana no Brasil, Ricardo Araújo afirma não ter dúvidas de que 2014 foi um marco para os phablets.
— Certamente, o ano passado serviu como consolidação para o mercado desses aparelhos, pois juntou duas coisas: uma maior oferta de dispositivos grandes e uma maior demanda por modelos pelos consumidores. E nós fomos um dos primeiros a apostar no formato — afirma ele, referindo-se ao primeiro Galaxy Note, lançado em 2011, com tela de 5,3 polegadas.
Segundo a consultoria IDC, os aparelhos com telas maiores de 5 polegadas representarão 50% do mercado mundial até 2016 — no Brasil, esse índice é esperado para 2018.
— Basta observar a evolução dos smartphones nos últimos anos a fim de perceber que se trata de uma tendência em crescimento. Em 2011, cerca de 93% do mercado global de smartphones eram de aparelhos com telas abaixo das 4 polegadas. Em 2014, 63% já eram de aparelhos acima deste tamanho — afirma Leonardo Munin, analista de pesquisas da IDC Brasil.
PAÍS TERÁ ESTE ANO 15% DE ‘GRANDÕES’
No Brasil, segundo a IDC, 15% dos aparelhos já terão mais de 5 polegadas este ano. Corroborando para a tendência, a grande novidade da Samsung para os consumidores do país é a linha Galaxy A, com modelos de 4,5, 5 e 5,5 polegadas.
Mas, como explicar a tendência de crescimento dos celulares, algo que não só desafia a sua mobilidade, mas também traz modelos maiores até que alguns do passado? Para se ter uma ideia, ainda que mais leve e menos espesso, o iPhone 6 Plus é quase 5 centímetros mais alto e cerca de 3 centímetros mais largo que o Nokia 3510, popular na década de 1990.
Para Alberto Saraiva, museólogo responsável pelo Museu das Telecomunicações no Rio de Janeiro, o fenômeno ocorre por uma demanda dos próprios usuários, a partir de dois aspectos principais: a crescente concentração de funções nos smartphones e a consolidação da tela de toque como principal meio de interação com o usuário.
— No início, os celulares eram usados apenas para ligações. Eram grandes não por uma demanda específica, mas por uma limitação tecnológica. Hoje, porém, o que as pessoas menos fazem em seus smartphones é falar — explica Saraiva. — Nessa dinâmica, as telas de toque têm um papel central. Por isso, quanto maior elas são, mais fácil o uso.
Diretora de marketing da Sony Mobile no Brasil, Ana Peretti tem percepção semelhante:
— Com os smartphones, houve uma mudança de comportamento do usuário. As pessoas passaram a navegar na internet, assistir a vídeos, ler livros... Com isso, foi natural que as telas crescessem para que essas funções pudessem ser efetuadas da melhor forma.
Apesar da multiplicação dos aparelhos grandões, nem todos ainda estão preparados para abrir mão da praticidade das telas menores. Dona de um iPhone 5S, a tradutora Laura Pires acha os novos modelos desconfortáveis.
— É mais pelo tamanho do aparelho mesmo, e não da tela. Acho desconfortável segurar um celular maior para digitar ou botar na orelha. Além disso, não cabe no bolso — afirma. — Espero que os aparelhos voltem a ter um tamanho mais agradável até eu precisar trocar de novo.
Mesmo as fabricantes admitem que há limites para o crescimento.
— O principal deles é a praticidade. Não acho que veremos um smartphone de 7 polegadas sendo produzido. Um dos nossos maiores desafios atualmente é justamente balancear a tela grande e o conforto de uso — afirma Renato Arradi, gerente de produtos da Motorola no Brasil.
De olho nesse fato, fabricantes vêm desenvolvendo e testando novas tecnologias que se adéquem à anatomia dos usuários. No ano passado, a LG lançou o G3, um celular com tela curva de 6 polegadas.
— Acho que, para o futuro, é inevitável que os smartphones sejam aproximados mais ao corpo dos usuários, ou por meio de aparelhos vestíveis ou de telas mais flexíveis. Essas tecnologias já existem em um estágio inicial. Me parece o caminho mais plausível — afirma o museólogo Alberto Saraiva.
TABLETS E PHABLETS, UMA CONVIVÊNCIA
Para Ana Peretti, da Sony, apesar da força das telas grandes, ainda há demanda para variados tamanhos de aparelhos no mercado — inclusive para os tablets, que cada vez mais disputam espaço com os phablets.
— Realizamos pesquisas que mostram que, apesar da demanda pelos modelos grandes, muita gente ainda prefere as telas menores e mais práticas, o que fez com que lançássemos nosso aparelho mais avançado, o Z3, em três tamanhos diferentes — afirma ela. — Há espaço até mesmo para os tablets coexistirem com os phablets: enquanto o primeiro é voltado para experiências mais imersivas, o segundo é mais imediato.
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