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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Mais jovem atriz indicada ao Oscar, Quvenzhané Wallis dá cara nova a Annie

Personagem ganhou fama no cinema nos anos 1980


Quvenzhané e Jamie Foxx, no papel do empresário que muda a vida de Annie: filme custou US$ 65 milhões e, desde o fim de dezembro, já arrecadou mais de US$ 85 milhões nos EUA


NOVA YORK - A menina de cachinhos ruivos que abre a primeira cena está ali por provocação: tudo é diferente na refilmagem de "Annie", o clássico infantojuvenil dos anos 1980 baseado numa HQ antiga que, àquela altura, já havia virado um bem-sucedido musical da Broadway. Esqueça a Grande Depressão, o orfanato e, sobretudo, os traços físicos da personagem-título.

Atualizada para a Nova York contemporânea, a história é transportada para a casa de uma cantora decadente que adota cinco meninas em troca de subsídios públicos - prática cada vez mais comum nos Estados Unidos -, e quem dá o tom é a atriz negra Quvenzhané Wallis, a mais jovem já indicada ao Oscar, por "Indomável sonhadora", dois anos atrás, quando tinha 9.

- O começo do filme foi o meu jeito de dizer: isso não vai ser o que vocês esperam ver. Esta á a sua Annie, por 30 segundos, e agora bem-vindos à nossa Annie - diz o diretor Will Gluck (que também assina roteiro e produção), sentado ao lado da atriz num quarto de hotel em Manhattan. - No resto do mundo é mais tranquilo, mas os americanos são obcecados pela ideia da Annie ruiva, como se não houvesse nada mais importante para se discutir nesse país.

A nova Annie se materializou na figura de Quvenzhané paralelamente a uma série de concorridas audições nacionais. O chamado, diga-se, não mencionava raça. O filme também não.

- Não tínhamos ideia de que tipo de atriz iríamos escalar. E aí essa menina da mesma idade que procurávamos é indicada ao Oscar. Quando a convidamos, ela cantou, dançou, não tivemos dúvida. Foi um dos raros momentos em Hollywood em que isso acontece - reconhece Gluck. - Nunca pensamos em fazer um statement, só queríamos ter as melhores pessoas nos papéis e retratar o mundo em que vivemos. E, quando dizem que Annie tem cabelo ruivo, isso não é verdade: ela começou como um cartum em preto e branco. É só a percepção que as pessoas têm.

Enquanto o diretor fala, alguém entra discretamente trazendo um prato de brócolis para a atriz. Ela vai concordando com tudo enquanto traça um por um, obediente. Até que emenda, brincando com o canudo de um copo cor de rosa:

- E eu gosto do meu cabelo do jeito que ele é.

Nascida numa pequena cidade da Louisiana, onde mora até hoje, Quvenzhané conta que já tinha assistido ao filme original, mas deixou para ver a peça depois de rodar o longa, "para não interferir muito". Em comum com Annie, ela diz que tem a determinação.

- Sou uma batalhadora, corro atrás do que quero, e se tem alguma coisa na minha frente eu dou a volta. Annie faz a mesma coisa - compara.

O filme - que chegou na última quinta-feira aos cinemas brasileiros - estreou nos Estados Unidos no fim de dezembro e, apesar das duras críticas e de ter vazado na internet na esteira do ciberataque à Sony, já arrecadou, apenas no mercado doméstico, mais de US$ 85 milhões (custou US$ 65 milhões). Decidido a dar um novo contexto à trama, Gluck manteve músicas icônicas como "Tomorrow", "It's the hard-knock life" (que já havia sido relançada por Jay Z, incluído no time de produtores) e "Maybe", todas acrescidas de uma discutível roupagem atual pela australiana Sia, e ainda incluiu três novas canções.

- As músicas que todos amam nunca estiveram em questão. Já algumas outras tiveram que sair, para adicionarmos novas e mantermos o tom atual - diz Gluck, que já havia dirigido "A mentira" ("Easy A") e "Amizade colorida". - Quando assumi o filme, fui rever o musical com a minha filha, e eles estavam ali dançando e cantando o New Deal, com o FDR (o ex-presidente americano Franklin Delano Roosevelt) na cadeira de rodas, e eu pensei: será que alguém aqui sabe do que eles estão falando? O que eu achei necessário foi a história de esperança, inspiração e otimismo dessa garota que ninguém impede de encontrar o seu lugar no mundo, e, quando ela encontra, não era o que esperava, mas ela vai em frente.

O papel de Oliver Warbucks - o industrialista que muda a vida de Annie na primeira versão, agora rebatizado de Will Stacks, dono de uma empresa de telefones celulares que resolve se candidatar à prefeitura de Nova York - foi entregue a Jamie Foxx. Já a megera Miss Hannigan é interpretada por Cameron Diaz.

- Essa Annie é para a geração que nunca viu "Annie" - pondera Cameron, pouco depois, no mesmo hotel. - Temos que deixar as coisas passadas no passado, para poder contar uma história que sempre será relevante permitindo que as crianças e os jovens de hoje aproveitem do jeito que sabem.

Alheia às polêmicas, Quvenzhané garante que jamais sentiu pressão alguma na pele da famosa personagem e que, na escola, ainda é "aquela garota comum que se senta ao fundo da sala".

- É como se eu tivesse o meu mundo real e o meu mundo de atriz. Outro dia estava filmando, agora estou dando entrevista, mas a maior parte do tempo passo catando as minhas roupas do chão, limpando o meu quarto, tentando manter as minhas notas para passar de ano - garante ela, que guarda planos surpreendentes para o futuro: - Quero ser veterinária.

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